No início do ano, Portugal comprometeu-se com 17,5 milhões de euros para programas opcionais da ESA até 2017. A garantia mantém o investimento nacional na agência europeia, na casa dos 15 milhões de euros por ano. Para as empresas portuguesas que colaboraram na Gaia, e que nos últimos anos se têm afirmado no sector, é um sinal positivo dada a situação do país. Mas admitem que havia espaço para crescer, com retorno.
A Nuno Ávila, da Deimos Engenharia, não faltam argumentos. "Quando se fala de reindustrialização do tecido económico, o sector espacial nacional é paradigmático. Nos dez anos em que existe apresentou uma produtividade média cerca de quatro vezes superior à nacional, exporta 100% do que produz e retornou à economia duas vezes o valor do investimento público efectuado, para não falar da retenção de quadros altamente qualificados." Reforçar o investimento é o passo evidente, diz "Portugal gasta anualmente 500 vezes mais em juros da dívida do que investe no Espaço. Investir no Espaço contribui para amortizar a dívida e gerar empregos. Pagar juros não."
José Luís Sousa Freitas, da GMV e Ivo Vieira, director executivo da Lusospace, partilham a mesma visão: o crescimento tem sido continuado, mas deveria aumentar, o envolvimento institucional dos estados é determinante das oportunidades das empresas no sector, já que a ESA procura retribuir ao país o investimento na adjudicação de projectos.
Vieira lembra que, ao investir nesta área, o Espaço não é o único produto. "O know--how adquirido na ESA permite desenvolver tecnologias altamente inovadoras para aplicação terrestre", diz, adiantando que a Lusospace já submeteu, com base na experiência, duas patentes para um conceito de óculos de realidade aumentada.
No campo da ciência, André Moitinho de Almeida, responsável pela participação no Gaia, diz que falta sobretudo uma estratégia, que faz do futuro da ciência espacial portuguesa um mistério. A preocupação mais imediata é que o único concurso de financiamento que permitiria assegurar a continuidade na missão Gaia exigia que o investigador principal tivesse feito o doutoramento entre 2003 e 2009, quando os dez doutorados da sua equipa concluíram a formação antes ou depois deste prazo. Além disso, o tecto de 50 mil euros neste concurso obrigaria a cortar em pessoas. "Estamos a ver como resolver o assunto com a FCT, mas o risco do desaparecimento quase completo da nossa participação na missão Gaia é real. Seria um desperdício e comprometeria a credibilidade de participações nacionais noutras missões da ESA."
Mas este problema particular liga com um maior. Retomar um programa específico de financiamento para investigações nesta área e desenvolver uma estratégia abrangente são as sugestões do investigador, que sublinha que o sector ainda assim tem crescido e que a tutela tem feito um bom trabalho na divulgação de oportunidades para financiamento estrangeiro e colaboração internacional. Mas não deve remeter os investigadores apenas para verbas europeias, a tónica das últimas abordagens agora que se aproxima o próximo quadro de financiamento europeu, horizonte 2020. "Haverá muito dinheiro mas os programas europeus de financiamento não são a solução universal", adverte. "Duram poucos anos, não se adequando a corridas de fundo como a implementação de uma missão espacial que leva mais de uma década. Se fossemos contar exclusivamente com eles, grande parte da ciência, quer em Portugal que fora, não existiria."
(in IOnline)