Nós estamos lá!
Janeiro 06, 2007
Vera Gomes
(artigo de Vera Gomes publicado no Jornal Região Sul).
A edição do Sol de 23 de Dezembro noticiou num cantinho da primeira página: Português integra equipa do espaço. Era então possível ler nas poucas linhas que se seguiam que um foguetão russo lançará no espaço um satélite que procurará novos planetas e desvendará o interior das estrelas. O português Mário João Monteiro é co-investigador da missão.
Até aqui tudo bem. Pensei eu que é agradável ler num dos principais jornais portugueses referências ao que os portugueses vão fazendo no Espaço. O problema é que para grande pena minha e de muitos, esta era a única referência em todo o jornal a este projecto. Apesar de ter corrido o jornal todo à procura do resto do artigo, acabei por perceber que aquele quadradinho na primeira página era na realidade O artigo.
Apesar de Portugal ter vindo a dar cartas neste sector, a verdade é que a nossa imprensa, não parece estar muito interessada nas boas práticas deste sector. Portugal possui um sector espacial bastante forte, com algumas empresas nacionais a competirem lado a lado com grandes grupos empresariais estrangeiros. Empresas como a Critical Software, Lusospace, Deimos, Edisoft, Skysoft e Space Services têm dado provas de estarem à altura de grandes projectos internacionais.
Tratando-se de um sector que movimenta milhões de euros, e sendo Portugal um membro da ESA, o sector espacial português pode em muito contribuir para o desenvolvimento nesta área. O sector espacial português é maioritariamente composto por fazedores de inteligência de satélites, não tendo ainda capacidades técnicas para dar o corpo aos mesmos. De facto, o único satélite português, o POSAT I, foi comprado à Survey Industries, no Reino Unido.
Desde a adesão de Portugal à ESA e com a política de justo retorno do investimento feito pelos Estados Membros da ESA, equipas e empresas portuguesas têm participado em projectos de grande envergadura, como o Galileu o sistema de navegação por satélite da Europa. Contudo, a luta das empresas portuguesas resume-se basicamente a conseguir projectos completos e não pequenas partes dos mesmos.
Considerando que em breve a ESA deixará de tratar de forma especial a indústria portuguesa do sector, torna-se necessário coordenar esforços para que Portugal consiga vingar face à concorrência dos grandes grupos industriais europeus. Na realidade, esta indústria não quer nem precisa de subsídios. O que esta indústria precisa é de um lóbi forte para fazer frente à concorrência agreste que se avizinha.
Um dos problemas que se colocam prende-se com a política de capelinhas que vamos assistindo nos sucessivos governos. Uma das soluções para uma posição forte do sector seria a criação de uma plataforma supraministerial que coordenasse todos os ministérios no âmbito do espaço. Neste momento, cada ministério é responsável por certos assuntos que estão interrelacionados e nem sempre esta ligação é feita de forma satisfatória para que no terreno tudo funcione em harmonia.
Importante também seria, que o próprio Gabinete Português para o Espaço, sob a tutela do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, fosse capaz de dar resposta às reivindicações das empresas portuguesas. O GPE seria uma instituição que deveria ser capaz de fazer lóbi. Apesar de tentar coordenar algumas actividades no sector, a verdade é que necessita de ter mais autonomia e poder para consiga realizar os objectivos para os quais foi criado.
Correndo o risco de ser saudosista, a verdade é que durante o governo de Salazar, Portugal uma verdadeira articulação entre instituições, sociedade civil e empresas. Recordo, por exemplo, o Centro de Estudos de Astronáutica, dedicado à divulgação e explicitação dos acontecimentos internacionais da área do espaço, e ainda promovia cursos de astronáutica, abertos a todos os interessados.
Actualmente, este trabalho de divulgação é feito praticamente por organizações privadas, grande parte delas compostas por amadores. A ligação entre profissionais do sector e o comum dos mortais parece estar inexistente. Apesar das iniciativas no âmbito do Ciência Viva serem louváveis, a verdade é que são apenas uma gota no Oceano. A questão de fundo, prende-se com o facto de em Portugal existirem organizações governamentais na área com um dinamismo reduzido, um corpo técnico insuficiente e claro, com as dificuldades orçamentais existentes em toda a Administração Pública. E estes factos em nada ajudam à criação de lóbi para o sector empresarial, coordenação entre ministérios, ponte entre indústria e centros de investigação, promoção do sector nas camadas mais jovens, sensibilização da opinião pública e apoio à investigação na área.
Se Portugal aposta num Plano Tecnológico, é necessário que também aposte na promoção de certos sectores que podem ser uma mais valia na tão ambicionada redução do défice assim como um pilar para a sustentação económica na área das novas tecnologias.
Várias vezes me questionaram em reuniões internacionais, o motivo pelo qual se encontram imensos astrofísicos e outros profissionais do espaço no estrangeiro, em empresas, centros de investigação e em organização internacionais. A resposta a mim parece-me clara: porque em Portugal não estão criadas condições nem parecem vir a ser criadas nos próximos anos para que essa fuga de cérebros não aconteça. Por diplomacia e uma pitada de vergonha misturada com orgulho, respondo que por sermos bons no que fazemos, todos querem usufruir das mais valias da nossa massa cinzenta.
A edição do Sol de 23 de Dezembro noticiou num cantinho da primeira página: Português integra equipa do espaço. Era então possível ler nas poucas linhas que se seguiam que um foguetão russo lançará no espaço um satélite que procurará novos planetas e desvendará o interior das estrelas. O português Mário João Monteiro é co-investigador da missão.
Até aqui tudo bem. Pensei eu que é agradável ler num dos principais jornais portugueses referências ao que os portugueses vão fazendo no Espaço. O problema é que para grande pena minha e de muitos, esta era a única referência em todo o jornal a este projecto. Apesar de ter corrido o jornal todo à procura do resto do artigo, acabei por perceber que aquele quadradinho na primeira página era na realidade O artigo.
Apesar de Portugal ter vindo a dar cartas neste sector, a verdade é que a nossa imprensa, não parece estar muito interessada nas boas práticas deste sector. Portugal possui um sector espacial bastante forte, com algumas empresas nacionais a competirem lado a lado com grandes grupos empresariais estrangeiros. Empresas como a Critical Software, Lusospace, Deimos, Edisoft, Skysoft e Space Services têm dado provas de estarem à altura de grandes projectos internacionais.
Tratando-se de um sector que movimenta milhões de euros, e sendo Portugal um membro da ESA, o sector espacial português pode em muito contribuir para o desenvolvimento nesta área. O sector espacial português é maioritariamente composto por fazedores de inteligência de satélites, não tendo ainda capacidades técnicas para dar o corpo aos mesmos. De facto, o único satélite português, o POSAT I, foi comprado à Survey Industries, no Reino Unido.
Desde a adesão de Portugal à ESA e com a política de justo retorno do investimento feito pelos Estados Membros da ESA, equipas e empresas portuguesas têm participado em projectos de grande envergadura, como o Galileu o sistema de navegação por satélite da Europa. Contudo, a luta das empresas portuguesas resume-se basicamente a conseguir projectos completos e não pequenas partes dos mesmos.
Considerando que em breve a ESA deixará de tratar de forma especial a indústria portuguesa do sector, torna-se necessário coordenar esforços para que Portugal consiga vingar face à concorrência dos grandes grupos industriais europeus. Na realidade, esta indústria não quer nem precisa de subsídios. O que esta indústria precisa é de um lóbi forte para fazer frente à concorrência agreste que se avizinha.
Um dos problemas que se colocam prende-se com a política de capelinhas que vamos assistindo nos sucessivos governos. Uma das soluções para uma posição forte do sector seria a criação de uma plataforma supraministerial que coordenasse todos os ministérios no âmbito do espaço. Neste momento, cada ministério é responsável por certos assuntos que estão interrelacionados e nem sempre esta ligação é feita de forma satisfatória para que no terreno tudo funcione em harmonia.
Importante também seria, que o próprio Gabinete Português para o Espaço, sob a tutela do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, fosse capaz de dar resposta às reivindicações das empresas portuguesas. O GPE seria uma instituição que deveria ser capaz de fazer lóbi. Apesar de tentar coordenar algumas actividades no sector, a verdade é que necessita de ter mais autonomia e poder para consiga realizar os objectivos para os quais foi criado.
Correndo o risco de ser saudosista, a verdade é que durante o governo de Salazar, Portugal uma verdadeira articulação entre instituições, sociedade civil e empresas. Recordo, por exemplo, o Centro de Estudos de Astronáutica, dedicado à divulgação e explicitação dos acontecimentos internacionais da área do espaço, e ainda promovia cursos de astronáutica, abertos a todos os interessados.
Actualmente, este trabalho de divulgação é feito praticamente por organizações privadas, grande parte delas compostas por amadores. A ligação entre profissionais do sector e o comum dos mortais parece estar inexistente. Apesar das iniciativas no âmbito do Ciência Viva serem louváveis, a verdade é que são apenas uma gota no Oceano. A questão de fundo, prende-se com o facto de em Portugal existirem organizações governamentais na área com um dinamismo reduzido, um corpo técnico insuficiente e claro, com as dificuldades orçamentais existentes em toda a Administração Pública. E estes factos em nada ajudam à criação de lóbi para o sector empresarial, coordenação entre ministérios, ponte entre indústria e centros de investigação, promoção do sector nas camadas mais jovens, sensibilização da opinião pública e apoio à investigação na área.
Se Portugal aposta num Plano Tecnológico, é necessário que também aposte na promoção de certos sectores que podem ser uma mais valia na tão ambicionada redução do défice assim como um pilar para a sustentação económica na área das novas tecnologias.
Várias vezes me questionaram em reuniões internacionais, o motivo pelo qual se encontram imensos astrofísicos e outros profissionais do espaço no estrangeiro, em empresas, centros de investigação e em organização internacionais. A resposta a mim parece-me clara: porque em Portugal não estão criadas condições nem parecem vir a ser criadas nos próximos anos para que essa fuga de cérebros não aconteça. Por diplomacia e uma pitada de vergonha misturada com orgulho, respondo que por sermos bons no que fazemos, todos querem usufruir das mais valias da nossa massa cinzenta.