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Astropolítica

"Se se pudessem interrogar as estrelas perguntar-lhes-ia se as maçam mais os astrónomos ou os poetas." Pitigrilli

Astropolítica

"Se se pudessem interrogar as estrelas perguntar-lhes-ia se as maçam mais os astrónomos ou os poetas." Pitigrilli

Os meus dois centavos a respeito do Dia Internacional da Mulher na Ciência

Fevereiro 11, 2020

Vera Gomes

Escrito para o NUCLIO - Núcleo Interactivo de Astronomia e publicado no Portal do Astrónomo

 

Eu tinha cerca de 19 anos quando fui ao meu primeiro encontro de observação noturna. Era um encontro de astrónomos amadores, um grupo que se reunia todos os meses por ocasião da Lua nova para observar estrelas e planetas. Eu era a única rapariga no grupo. E a única da área de ciências sociais.

A minha paixão pelo espaço tinha começado uns anos antes, quando ainda frequentava a escola secundária. Nessa altura comecei a ler mais sobre estrelas e planetas; a internet acabava de chegar a Portugal e deu-me acesso a todo um novo mundo. Estava completamente fascinada pelas fotos do espaço, as curiosidades sobre os planetas e os livros de Carl Sagan. Ao longo do tempo, habituei-me a ser a única presença feminina nos eventos de observação noturna. Ouvi as preocupações da minha mãe acerca de estar no meio do nada com um grupo de homens: “faz o que tu quiseres, mas tem cuidado com as más línguas: afinal de contas, isto é uma vila muito pequena!”

A minha paixão pelo espaço continuou a crescer, e resolvi fazer a minha tese de Mestrado sobre Política Espacial. Tive de lidar com as piadas acerca do tema, o questionar constante sobre a minha escolha, o seu propósito e a sua utilidade para o meu país. Mas não desisti! E uns anos mais tarde, fui recrutada para trabalhar com os programas espaciais da União Europeia de navegação por satélite: Galileo e EGNOS.

Tal como nos encontros de observação noturna, habituei-me a ser a única mulher na sala na maioria das minhas reuniões, sobretudo se se debruçassem sobre temas mais técnicos, ou fossem reuniões de alto nível com alguns dos atores principais na área do espaço na Europa. A minha experiência pessoal é apenas o reflexo da desigualdade de género no sector do espaço.

O sector espacial tem profissionais altamente qualificados por todo o mundo. Tem, principalmente cientistas e engenheiros, mas inclui também outras profissões de apoio onde existe maior representação feminina (por exemplo, gestão e apoio legal). A desigualdade de género no sector espacial não é algo novo. Tem persistido ao longo das décadas. As mulheres representavam cerca de 20% dos profissionais do espaço em 2016, o que está na mesma linha que os números… de há 30 anos! Este facto é também consequência da persistente baixa percentagem de raparigas e mulheres que escolhem estudar na área das ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

Temos que ter presente que ciência e igualdade de género são vitais para alcançar os objectivos de desenvolvimento sustentável que foram internacionalmente acordados, incluindo os que estão definidos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Em particular, o objectivo n.º 4 – educação de qualidade; objectivo n.º 5 – igualdade de género; e objectivo n.º 10 – reduzir as desigualdades. Nos últimos 15 anos, a comunidade global tem feito esforços para inspirar e empenhar mulheres e raparigas na ciência. Mas ainda há muito para se fazer!

Na minha opinião é importante o uso contínuo e sistemático de modelos, tanto femininos como masculinos, e continuamente mostrar exemplos positivos aos jovens. Isto é uma ferramenta importante para quebrar os estereótipos ligados às carreiras profissionais. O Espaço tem uma série de modelos excepcionais para oferecer, além dos suspeitos do costume: Valentina Tereshkova (primeira mulher no espaço), Svetlana Savitskaya (primeira caminhada espacial); Susan Helms (primeira mulher numa expedição à Estação Espacial Internacional); Claudie (André-Deshays) Haigneré (primeira astronauta e ex-ministra francesa); Mae Jemison (primeira mulher afro-americana a ir ao espaço); Eileen Collins (primeira mulher piloto e comandante do vaivém americano), e ainda assim os seus nomes não são do conhecimento geral  nem, em particular, do de outras raparigas e mulheres.

Também precisamos de promover soluções baseadas nos serviços e dados que o Espaço oferece como facilitadoras de um mundo mais aberto e inclusivo, e para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. O Espaço tem uma enorme contribuição a dar para tornar o mundo mais sustentável, justo e inclusivo. Por exemplo, o Espaço pode ajudar a reduzir desigualdades de género no que concerne a violência e tráfico humano.

Eu acredito verdadeiramente que o Espaço importa no que diz respeito ao direito das mulheres de beneficiarem da Ciência e da Tecnologia. O caminho a seguir deverá ser o de construir estratégias que assegurem que os benefícios espaciais estão de facto acessíveis a todos, e que o próprio sector espacial se torne mais inclusivo e mais diversificado. Isto, é para mim, a prioridade pela qual todos nós deveríamos lutar nos anos vindouros.

 

ENGLISH VERSION

I was around 19 years old when I attended my first stargazing event. It was a gathering of amateur astronomers that would meet every month, at the New Moon, to look at stars and planets. I was the only girl in the group. And the only one with a background in the social sciences.

My passion for space had started a few years earlier, when I was in high school. I started reading more about stars and planets; the “internet” was just arriving to Portugal and it gave me access to a brand new world. I was overwhelmed by the space photos, the fun facts about planets and Carl Sagan books. Over the years, I got used to being the only woman in stargazing gatherings. I heard my mum’s concerns about being in the middle of the woods with a group of men: “do what you want, but be aware of the gossip: it is a small village!”

My passion grew further, and I decided to pursue my Master’s thesis in Space Policy. I had to cope with the jokes about it; the constant questioning about my choice, its purpose, and how useless the topic I chose to study was for my country. But I did not give up! And a few years later I joined the European Satellite Navigation projects at the European Commission: Galileo and EGNOS.

Like in the stargazing gatherings, I got used to being the only woman around the table in most of my meetings, especially on those focusing on more technical aspects, or on high level meetings with space stakeholders. My personal experience is just a reflection of the gender gap in the space sector.

The space sector has highly skilled professionals around the world. It comprises mainly scientists and engineers, but it also includes other support professions in which women are better represented (e.g. business, legal). The gender gap in the space sector is not something new. It persisted for decades! Women represented only 20% of space industry employees in 2016, which is in line with the numbers of… 30 years ago! This is also a consequence of the persistently low percentage of girls and women pursuing studies in science, technology, engineering and mathematics.

We need to keep in mind that science and gender equality are vital for the achievement of the internationally agreed development goals, including the United Nations 2030 Agenda for Sustainable Development. In particular, goal number 4 – quality education; goal number 5 – gender equality; and goal number 10 – reduced inequalities. Over the past 15 years, the global community has made efforts in inspiring and engaging women and girls in science. But there is still much more to be done!

It is my opinion that it is important to use role models in a systematic manner, both male and female, and continuously set positive life examples for young people. This is an important tool to help in breaking gender-related career stereotypes. Space has outstanding role models beyond the usual suspects: Valentina Tereshkova (first woman in space), Svetlana Savitskaya (first woman to walk in space); Susan Helms (first woman in an International Space Station expedition); Claudie (André-Deshays) Haigneré (french politician and former astronaut); Mae Jemison (first afro-american woman to go to space); Eileen Collins (first female shuttle pilot and shuttle commander) – and yet their names are not well known to the public in general, girls and women in particular.

We also need to promote space-based solutions as enablers when it comes to making the world more open and inclusive, and for the achievement of the Sustainable Development Goals. Space has a huge contribution to give to make the world a more sustainable, fair and inclusive world. For example, space can help to combat gender inequality when it comes to violence and human trafficking.

I truly believe that space matters when it comes to the rights of women to benefit from science and technology. The way forward should be to build strategies that ensure that space benefits really reach one and all, and that the space sector itself becomes more inclusive and diverse. This is, for me, a priority that all of us should pursue in the years to come.

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