O que é o Galileo?
Agosto 21, 2014
Vera Gomes
O Galileo é o programa europeu de radionavegação e de posicionamento por satélite. Lançado pela Comissão Europeia e desenvolvido conjuntamente com a Agência Espacial Europeia, o programa GALILEO dota a União Europeia (UE) de uma tecnologia independente em relação ao GPS americano e ao GLONASS russo.
O sistema Galileo é de importância estratégica, não só para a competitividade na indústria europeia e a criação de emprego, mas também para assegurar a independência da Europa na tecnologia e política espacial.
O sistema Galileo, que estará operacional em 2015, irá melhorar o quotidiano, por exemplo, com o aperfeiçoamento do sistema de posicionamento e da segurança nas transacções bancárias.
No domínio da navegação por satélite, as questões em jogo são consideráveis e de diversa natureza. Actualmente, há dois sistemas concorrentes em funcionamento - o GPS americano, que domina o mercado e o GLONASS russo - e um terceiro prestes a entrar no mercado mundial - o Beidou desenvolvido pela China.
A dependência nomeadamente em relação ao GPS sempre levantou questões de ordem estratégica, dado que os sistemas utilizados não estão sob controlo europeu. Assim, a União Europeia embarcou no desafio de garantir resposta às necessidades estratégicas europeias, como, por exemplo, em matéria de política externa e de segurança comum, sem riscos nem custos excessivos.
A navegação por satélite oferece vantagens evidentes para a gestão dos transportes. Permite reforçar a segurança, melhorar a fluidez dos fluxos de tráfego, reduzir os congestionamentos e os danos ambientais e apoiar o desenvolvimento multimodal. Os sistemas actuais GPS e GLONASS aparentemente não garantem a fiabilidade e a disponibilidade necessárias nomeadamente para o transporte de pessoas. A implantação do sistema europeu Galileo permitirá eliminar estes inconvenientes.
Estão também em jogo questões de natureza económica e industrial. De facto, face a um mercado mundial potencial avaliado em 40 000 milhares de milhões de euros em 2005, o desafio consiste em captar uma parte adequada do mercado da navegação por satélite, bem como o emprego daí decorrente. As estimativas actuais são as seguintes: o desenvolvimento da infra-estrutura Galileo deve gerar 20 000 postos de trabalho e a sua exploração 2 000 postos permanentes, para além das oportunidades que surgirão no domínio das aplicações.
Por último, os aspectos regulamentares não são desprezáveis. Na verdade, o recurso a sistemas de informação baseados em sinais de determinação da posição e de sincronização poderá permitir controlar o respeito de determinadas regulamentações comunitárias em matéria de pesca, por exemplo, ou ainda de protecção do ambiente.
Tendo os Estados Unidos obtido um avanço significativo neste domínio, é indispensável, face a estes desafios, que a Europa tome rapidamente uma decisão relativa à sua participação na próxima geração de sistemas de determinação da posição, de navegação e de sincronização por satélite.
As escolhas estratégicas
O desenvolvimento de um GNSS (sistema global de navegação por satélite) deve ser concertado. Na sequência do Conselho Europeu de Março de 1998 que convidou a Comissão a explorar a possibilidade de desenvolvimento de um sistema comum com os Estados Unidos, foi possível clarificar as opções viáveis através de discussões. Dado que os EUA não encaram, por motivos militares, a possibilidade de um regime de propriedade comum nem um papel efectivo da Europa no controlo do sistema GPS, a cooperação deverá assentar:
- Ou no sistema GPS existente controlado pelos Estados Unidos.
- Ou no desenvolvimento de um GNSS baseado em dois sistemas de navegação por satélite complementares e interoperáveis: GPS e Galileo.
Esta última opção foi a escolhida pela Comissão Europeia, que rejeitou, assim, a opção zero que consistia em renunciar expressamente a qualquer participação europeia no segmento espacial principal do futuro GNSS.
Segundo a Comissão, é igualmente desejável que o Galileo esteja aberto a outros parceiros, com os quais foram já estabelecidos contactos, como:
- A Federação da Rússia: o sistema GLONASS poderia integrar-se progressivamente no Galileo.
- A China
- Outros países ou regiões (PECO, EFTA, Turquia, ...) junto dos quais a Europa deve promover a sua abordagem em favor do GNSS.
Por último, o Galileo deverá explorar as possibilidades oferecidas pela aplicação de um sistema de navegação por satélite para fins civis, procurando eliminar as lacunas do GPS e reforçar a fiabilidade do GNSS. Deverá, desde o início, fornecer uma cobertura mundial.
Exigências e características técnicas
O sistema está a ser implementado de modo a garantir uma cobertura planetária e a permitir aplicações para o cidadão comum, com um bom nível de segurança no que se refere às actividades de transporte europeias e uma infra-estrutura espacial tão reduzida quanto possível.
No que respeita à segurança, o sistema garante a protecção física das infra-estruturas vitais e o fornecimento de sinais precisos em caso de crise ou de guerra. Há o máximo cuidado em tornar impossível qualquer utilização indevida de um sinal e ainda o acesso, pelo inimigo, ao sistema em tempo de guerra. Para responder a estas exigências de segurança, os peritos preconizam a instauração de um acesso controlado.
Aspectos financeiros
Para o período 2014-20, os programas de navegaçao por satélite europeus (Galileo e EGNOS) têm consagradA a verba de 7072 millhões de euros (em preços correntes).
A política americana actual consiste em fornecer gratuitamente o sinal GPS de base. A aplicação deste tipo de abordagem para o Galileo traduz-se numa necessidade de financiamento público significativo, dado que o sector privado não está em condições de suportar sozinho os custos da oferta de um serviço gratuito aos utilizadores.
Podem saber mais sobre o Galileo aqui e aqui.